Era uma vez um cinema

Era uma tarde la (estou temporariamente sem acentos, til, cedilha...) pelos idos de 1990. Fazia tempo bom e uma legiao de adolescentes enfileirados aguardava a vez de comprar sua entrada para o entao mais novo filme dos Trapalhoes. Foi a ultima ocasiao em que vi o Art-Meier realmente disputado. Em breve, os cinemas de bairro comecariam a ser substituidos pelas salas de exibicao dos shoppings.

A Praia foi o ultimo filme a que assisti no Art-Meier. Sessao na noite da estreia, quase todos os mais de 400 lugares do cinema desocupados. Naquele ritmo, nao teria mesmo como durar muito.

Com seu estilo antigo, o Art-Meier, na rua Silva Rabelo, era o meu cinema preferido no bairro. Suas poltronas tinham apenas o assento acolchoado, o enconsto sempre foi mantido de madeira. A distancia entre as fileiras permitia dar conforto para as pernas e as poltronas do balcao, para onde subia-se por duas escadas exteriores a sala, emprestavam um charme a parte. Eu nem ligava para o cheiro de estabelecimento antigo.

O Art-Meier foi o cinema que mais resisitiu por aqui. Antes dele, Imperator, Paratodos e Bruni tambem fecharam suas portas. Apesar dos rumores vez por outra circulantes de que serao construidas salas de exibicao no Shopping do Meier, desde o fim do Art ficamos sem nenhum cinema aqui no bairro.

O destino do Art-Meier foi semelhante ao de muitos outros cinemas da cidade: depois de muito agonizar, foi transformado em uma igreja evangelica. As poltronas antigas que tanto me encantavam foram substituidas por simples cadeiras brancas de plastico. Com todo o respeito aos frequentadores da igreja, foi a historia mais triste a que assisti no cinema que eu gostava de pensar que estaria la para sempre. Mas eh assim mesmo, a vida nao pode parar.