terça-feira, 15 de junho de 2010

Para esse ônibus que eu quero descer!

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa chata. Não gosto de um monte de coisas. Tenho nojo de cabelo, acho os filmes do 007 intermináveis e detesto falta de educação. Também tenho horror a gente que se intromete na vida alheia e não suporto andar de ônibus. Desse último, infelizmente, ainda não arranjei meio de escapar.

De segunda a sexta-feira, faço de duas a três viagens de ônibus. Até alguns meses atrás, para ir trabalhar pegava o 247 ou 249, o que passasse primeiro. Gastava no mínimo uma hora (na imensa maioria das vezes, muito mais) até o Centro. Era um inferno. Ônibus lotado, motorista dirigindo como se transportasse carga, passageiros sem noção ouvindo música sem fones de ouvido... Resumindo, aquela entropia com a qual estão familiarizados todos os infelizes que dependem dos ônibus no Rio de Janeiro.

Em um típico dia do mais angustiante calor estival, presenteei a mim mesma com uma viagem de frescão até o trabalho. Sentindo a ameaça das gotas de suor, que já começavam a se encaminhar para os poros, olhei a fila na porta do 247. Olhei para o alto e percebi a imponência da estrela dourada. Antevi os 90 minutos sacolejando do Méier ao Centro no ônibus fedido, quente e cheio. Foi o suficiente para me imbuir de toda a coragem e fazer sinal para o 1051 da Matias. Paguei os mais de R$ 6 que me dariam o direito de viajar em um ônibus com poltrona confortável, ar condicionado e que não para em tudo quanto é ponto. Eu merecia.

Mas aí, sabe como é. Habituar-se ao que é bom leva um segundo e o que era para ser uma situação excepcional passou a permanente. Quem disse que, depois de conhecer o conforto do frescão, eu conseguia viajar de 247 ou 249 impunemente? Estranhava tudo: o assento, a barulheira, a falta de apego dos motoristas às regras de segurança no trânsito. Aconteceu o inevitável: aderi ao Matias para as viagens mais longas.

Meu pai deixou de andar de Matias depois de ter sofrido três assaltos traumatizantes em um mesmo semestre. Sei desse risco, mas cruzo os dedos e tomo meu lugar no frescão. Desde o verão, tenho sido uma feliz usuária da combinação ônibus + conforto. Por sorte, tudo vem correndo bem. Ou melhor, vinha. Até ontem.

No Matias, o combo poltrona confortável e ar condicionado vem acrescido de música ambiente. Geralmente os motoristas sintonizam as rádios MPB ou JB FM. Alguns programam canções do Elvis, Rei do Rock, ou do Rei Roberto Carlos (dessa monarquia não gosto, mas respeito) para a viagem toda. Mas ontem... Ontem a trilha sonora do Méier ao Centro foi pagode. Pagode, meu Deus! Lamentei não estar com meu MP3, mas pensei que tivesse sido um caso isolado. Hoje de manhã, como de hábito, entro no frescão. O motorista não era o mesmo da véspera, mas a música... Pagode de novo impregnando meu cérebro até o Centro. Começo a desconfiar que talvez exista um plano maligno das empresas de transporte rodoviário (sub)urbano para destruir a minha pessoa.

Um comentário: