terça-feira, 15 de julho de 2008

Desejo

Se hoje estivesse chovendo e fosse feriado, eu acordaria sem pressa de espantar a preguiça. Esfregaria os olhos e ficaria ainda um pouco mais debaixo das cobertas, prestando atenção ao quase silêncio, quebrado pelos ônibus e pelas primeiras vozes que passam. Vestiria meu roupão atoalhado, correria os passos que separam a cama do janelão do quarto e afastaria um pouco a cortina, para ver a intensidade da chuva, que seria fraca, porque chuva forte mais assusta do que acolhe. Voltaria até a beira da cama e calçaria as pantufas, antes de ir até a cozinha para colocar a chaleira no fogo. Enquanto esperasse a água ferver, entraria na biblioteca e escolheria algo para começar a ler. Preparado o chá, o beberia de pé, devagar, olhando através da bay window o quintal molhado. Depois do desjejum, me acomodaria na poltrona, com os pés em cima do banquinho, e viajaria para um mundo criado ou recriado.

Mas hoje não está chovendo e é preciso trabalhar.

Nenhum comentário: