Mais uma que se vai...

Eu gostava, quando voltava cedo pra casa, de descer do ônibus alguns pontos antes e passar na Blockbuster para escolher um filme. A Blockbuster era A locadora daqui da região, pra mim, e eu era capaz de ficar quase uma hora lá dentro, avaliando com calma todos os lançamentos, procurando filmes antigos e verificando se os meus favoritos continuavam em seus devidos lugares nas prateleiras.

Minha primeira carteirinha de sócia da Blockbuster é da loja da Tijuca e eu costuma alugar filmes (VHS, na época) na da rua Maxwell, em Vila Isabel. Nada prático, às vezes batia uma preguiça, mas as locadoras que eu tinha por perto eram bem mais fraquinhas, principalmente em termos de novidade, quantidade e prazo para devolução. Claro que fiquei radiante quando soube que teria uma Blockbuster muito mais próximo de casa.

Nas condições normais de temperatura e pressão, eu alugava algum(ns) filme(s) na Blockbuster pelo menos uma vez por semana. Era um hábito. Houve fitas do Danny Boyle que peguei mais de uma vez e meu irmão inclusive quis comprá-las para mim, mas a atendente recusou a oferta. Uma pena, porque até hoje não foram lançadas em DVD. Foi na Blockbuster que me decidi a provar um Häagen-Dazs. Levei para casa um pequeno pote, sabor doce de leite, para comer assistindo a Magnólia. Delicioso o sorvete, maravilhoso o filme.

Lembro de uma vez em que, em casa com meu irmão, cismamos de assistir aos Cavaleiros do Zodíaco. Envergonhados, nenhum dos dois estava disposto a pagar o mico de ir à Blockbuster procurar por algum filme, saga, qualquer coisa de Saint Seya e os demais cavaleiros de bronze. Convenci meu irmão de que deveria ser ele a partir para o sacrifício, por ser mais novo, com idade mais próxima à época do desenho. “Fica menos mal pra você do que pra mim”, argumentei e ele concordou, ainda que um pouco vacilante. Foi à locadora, mas procurou em vão. A seção infantil havia sido tomada pelo Pokémon. Para se certificar, meu irmão, discretamente, se aproximou de um atendente e, em voz baixa, perguntou se eles tinham alguma coisa dos Cavaleiros do Zodíado. No que o incauto berra para um colega na outra ponta da loja: “Fulano, a gente tem Cavaleiros do Zodíaco?”. Fosse comigo, acho que ficaria uns dois meses sem pôr meus pés na loja. Pelo menos.

No fim das contas, estou há muito, muito mais de dois meses sem fazer meus passeios semanais pela Blockbuster, desde que as Lojas Americanas resolveram comprar a rede e transformar a loja do Méier em um furdunço desanimador. Voltei lá uma vez pra nunca mais. Horrível garimpar os filmes naquele lugar.

Órfã da Blockbuster, mais recentemente encontrei alento na Fün Club, que funcionava no mesmo prédio da academia Curves, na Dias da Cruz. Apesar de pequenina, a locadora tinha um clima acolhedor e um catálogo satisfatório. Pelo pouco espaço e tempo de existência da Fün Club, não dispunha de filmes muito antigos, mas acho que o foco deles era mesmo produções mais recentes. Gostava do bom atendimento (coisa rara nos estabelecimentos comerciais do Rio de Janeiro), um dos funcionários guardou meu nome e sobrenome desde o dia em que comecei a freqüentar a locadora. Estava feliz com a Fün Club até semana passada, quando descobri - não sem me assustar - que a locadora estava encerrando suas atividades, tendo até mesmo colocado os filmes à venda. E agora, cá estou eu, de volta à estaca zero, outra vez sem ter uma locadora simpática para chamar de minha.