terça-feira, 13 de novembro de 2007

Antes era assim

- Boa noite! É pra onde?
- Méier. Rua --------, o senhor conhece?
- Conheço, sim, morei 23 anos nessa rua, no número ---, sabe onde é?, perguntou o motorista do táxi, imediatamente antes de engatar a conversa sobre como o bairro foi um dia. Nesse número que eu falei hoje fica um prédio, mas antes era uma casa. Derrubaram depois que a minha família vendeu e se mudou.

À medida que o carro cortava as ruas quase sem trânsito àquela hora, o taxista ia apontando lugares que ele conheceu diferentes e chegava a descansar o pé do acelerador, vez por outra, de modo a valorizar os detalhes.

- Tá vendo esse prédio, esse grande, aí na esquina? Era uma chácara. Aquele ali também. Sempre morei no Méier, quando era garoto andava por tudo isso aqui, moça. Essa casa no lado esquerdo, que vai passar agora, é muito boa, grande. Ela vai pro lado de lá, quase chega na outra rua. Tá à venda, logo vira apartamento.

O curioso é que o taxista me apontava lugares que, não sei por qual motivo, nunca tinha me dado conta de que nem sempre foram como se mostram hoje. Talvez por achar, mesmo que inconscientemete, que mudanças de tal magnitude fossem mais antigas do que na realidade o são. Provavelmente por pensar que a existência de chácaras por essas bandas pertencesse exclusivamente à época em que o bairro era uma fazenda. Porque, quando penso no passado do Méier, o que nuvenzeia a mente é a infância do bairro, tempo que, por sinal, conheço bem pouco.

Dizer que o bairro, em seus primórdios, era uma fazenda e pertenceu à família Meyer é chover no molhado, todo mundo sabe disso. O que eu não conhecia - estou descobrindo com o livro Bem-vindos ao Grande Méier, escrito pelo casal Josepha Barbosa Soares e Wilson Pereira Barbosa - é o caminho que o bairro trilhou até se transformar no que conheço. É interessante saber, por exemplo, que o português da província do Minho Manoel José de Paiva foi o primeiro morador daqui, tendo comprado seu pedaço de terra em 1887. Quando construiu sua casa, o Méier, além de desabitado, ainda não existia. Hoje, o que não existe mais é a casa que pertenceu ao pioneiro e ficava no número sete da rua Hermengarda, tendo depois passado para o 84 e, por fim, 344. Foi desapropriada pelo governo Carlos Lacerda (1960-1965), estava no caminho da construção da via de acesso ao Centro.

É interessante conhecer também aspectos da história mais recente, como o fato de que a rua Dias da Cruz, onde sempre gostei de passear, foi assim batizada em homenagem ao médico homeopata Francisco de Menezes Dias da Cruz. E engraçado, talvez espantoso, é saber que a rua onde moro, diariamente tão congestionada pelo grande número de veículos, um dia já foi itinerário do bonde.

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