domingo, 27 de abril de 2008

Un, deux, plié!

Eu era menina criança bem criança quando minha mãe achou por bem me matricular no ballet. Devia ter por volta de três anos de idade na época em que ganhei meu primeiro par de sapatilhas e, de coque preso por rendinha e collant rosa bebê adornado com o que pretendia ser uma minissainha, comecei a freqüentar as aulas no Centro de Dança Rio. O lugar, se não me engano, já se chamou Academia Rio.

Antes de ocupar o número 16 da rua José Veríssimo, o Centro de Dança Rio ficava em cima do que hoje é a farmácia popular Vital Brasil, na rua Dias da Cruz, 638. A entrada era pela rua Itobi, por uma porta dupla de ferro e vidro, se minha memória não me trai. As lembranças desse período já não são tão confiáveis, mas recordo o nome de duas professoras. Uma delas, a tia Alice, eu imaginava tratar-se da personagem do Lewis Carroll. Fui sua aluna já na José Veríssimo. A outra, tia Fátima, com quem tive aulas ainda na Itobi, é hoje uma das jornalistas mais conhecidas do país.

Os cerca de nove anos dedicados às sessões de pliés, demi-pliés, pas de deux e elevés não foram suficientes para me transformar em uma bailarina. Nem o dobro o seria. Não tenho o dom, nem a coordenação necessária, tampouco o physique du rôle. Honestamente, foi um enorme alívio quando meus pais finalmente concordaram em me deixar pendurar as sapatilhas.

O Centro de Dança Rio é uma escola de renome. Graças a ela e à formação profissionalizante que oferece, bailarinos de primeira grandeza já deixaram as salas de aula no Méier para ganhar os palcos do mundo. Faz algumas semanas, li em uma revista que Thiago Soares é o primeiro-bailarino do Royal Ballet de Londres. Fernanda Oliveira ocupa o posto de solista principal do English National Ballet. Allan Falieri pertenceu ao Béjart Ballet da Suíça e hoje integra o Nederlands Dans Théater, da Holanda. Irlan da Silva estreou no Municipal daqui do Rio e, junto com Thiago, aparece em um documentário produzido pela BBC de Londres. Todos são ex-alunos da escola de dança que, em dezembro de 1973, começou a fazer parte da história do bairro.

Eu, que abandonei o ballet quando estava para conquistar a imponente sapatilha de ponta, me orgulho por saber que essa pequena grande escola no subúrbio tem ajudado a formar e revelar tantos talentos brasileiros. Imagino que, aonde quer que suas sapatilhas os levem, esses bailarinos bem-sucedidos carreguem lembranças queridas do lugar onde deram seus primeiros passos de ballet. Já no meu caso, uma das memórias afetivas que guardo do Centro de Dança Rio é da minha prima, no início da aula, zunindo por uma janela de um dos cinco andares do prédio a minha cobrinha de borracha, jamais localizada.

11 comentários:

Anônimo disse...

Hoje, domingo, recebi por uma amiga o seu endereço de Blog. Comecei a ler, gostei muito. Como moradora da região do Méier, por mais de cinqüenta anos, passei por suas palavras, relembrando como era o nosso Méier.
Rê, você tem uma manera de escrever que nos envolve e não dá vontade de parar de ler as suas histórias.

Abraços

Juranice

Anônimo disse...

Juranice, obrigada pelas palavras tão carinhosas. Minhas bochechas até coraram. Abraços.

Anônimo disse...

Rê, será que essa academia foi a mesma em que a Fátima Bernardes fez aula? você sabe que ela é do Méier, né? Gostei do blog. Saudosismo total. Também sinto falta da Olaria de minha infância... Bjs, Gil.

Anônimo disse...

Gil, obrigada! Foi a mesma academia sim. Por sinal, a tia Fátima que mecionei é a própria.

Sonia Sant'Anna disse...

TAmb´m fiz aulas de ballet na infância e inicio da adolescência. Sem qualquer dom para a coisa. Mas não foi tempo perdido, aprendi a gostar da dança e a entender um pouquinho.
Quanto aos bailarinos brasileiros no exterior, costumo dizer que o Brasil um dia vai exportar bailarinos como hoje exporta jogadores de futebol. Com o ballet sendo oferecido também às crianças de baixa renda, os talentos se multiplicaram. Do morro do CAtangalo aqui perto vários/as alunos/as hoje estão no Municipal e alguns deles na Europa.

Anônimo disse...

Sonia, é muito bacana sim o acesso do ballet (e da arte e dos esportes em geral) às crianças de baixa renda. Entre os talentos revelados pela Centro de Dança Rio acontece o mesmo que você mencionou, há bailarinos que foram descobertos em comunidades menos privilegiadas. Tomara, sim, que um dia os bailarinos brasileiros obtenham o mesmo reconhecimento que jogadores de futebol.

Unknown disse...

Que prima é essa?! A Lu ou a Su?!

(estou adorando esses minutos de leitura no seu blog)

=)

Anônimo disse...

Bianca, fico feliz que você esteja gostando do blog. =) Vou responder a sua pergunta por e-mail, tá? Beijinhos.

Anônimo disse...

heheh tbm tive aulas no centro de dança rio e abandonei justamente no primeiro ano de sapatilha de ponta!!Me lembro q um dia a Fátima bernades foi lá fazer uma entrevista para o fantastico..não seguia a carreira de balairina(Sou professoras de artes)mastenho ótimas recordações de lá..beijos
**seu blog foi para a lista nos favoritos!!!

Unknown disse...

é uma pena que apenas as carreiras internacionais tenham sido mencionadas, porque muitas carreiras de sucesso aqui no brasil também começaram pela rio, mas a falta de consideração pelo nacional é uma mania do brasileiro! Que pena!

Renata disse...

biancalyne, não se trata de falta de consideração. Não poderia mencionar as carreiras de sucesso no Brasil simplesmente porque não as conheço, já que não acompanho ballet. Os nomes citados são os que encontrei na pequena pesquisa que fiz na rede.